TEXTO BÍBLICO: “Ao cair
da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancada as portas da casa onde
estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e
disse-lhes: Paz seja convosco!” (João 20:19).
INTRODUÇÃO: João 20:19
apresenta o retrato da IGREJA DE PORTAS FECHADAS; e o texto sagrado acrescenta:
“com medo dos judeus”. E o medo é a primeira trave que mantém a porta da igreja
fechada. E se a porta da igreja estiver fechada, Jesus por certo estará ausente.
A igreja de portas fechadas é SURDA, CEGA, DESOBEDIENTE, IRRESPONSÁVEL. Essa,
realmente essa, era a condição da primitiva Igreja de Jerusalém, naquele
maravilhoso domingo da ressurreição do Senhor Jesus. Mas aquela igreja não
permaneceu com suas portas fechadas; aquela igreja caminhou para a vitória,
caminhou para a utilidade no bendito Filho de Deus. A Igreja de Jerusalém se
preparou para abrir às suas portas. E em que consistiu sua preparação? Primeiramente
em oração: “Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com
Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (Atos 1:14). Ela endireitou as
coisas; pôs tudo em perfeita ordem; obedeceu à ordem terminante do Mestre, de
permanecer na cidade ATÉ QUE DO ALTO FOSSE REVESTIDA DE PODER. Segundo, confiou
na promessa do Pai, feita por Jesus: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu
Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder”
(Lucas 24:49) e “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no
mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e
encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre
eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram
cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o
Espírito lhes concedia que falassem” (Atos 2:1-4). As portas da Igreja de
Jerusalém se abriram para uma multidão de milhares de milhares, procedente de
dezesseis diferentes pontos da terra.
I – É A QUE TRABALHA NO
PODER DO ESPÍRITO SANTO: Antes do Pentecostes, o grupo de discípulos tentou
muitas vezes fazer a obra do Mestre no poder da carne. Resultado: fracassaram
na expulsão do demônio no sopé do Monte Hermon – “E quando chegaram para junto
da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor,
compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes
cai no fogo e outras muitas, na água. Apresentei-o a teus discípulos, mas eles
não puderam curá-lo. Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando
estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei aqui o menino. E Jesus
repreendeu o demônio, e este saiu do menino; e, desde àquela hora, ficou o
menino curado. Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em
particular: Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? E Ele lhes respondeu:
Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé
como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele
passará. Nada vos será impossível” (Mateus 17:14-20); fracassaram na vigilância
com o Senhor Jesus no Getsêmani – “E, voltando para os discípulos, achou-os
dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudeste vós vigiar comigo? E,
voltando, achou-os outra vez dormindo; porque os seus olhos estavam pesados.
Então, voltou para os discípulos e lhes disse: Ainda dormis e repousais! Eis
que é chegada a hora, e o Filho do homem está sendo entregue nas mãos de
pecadores” (Mateus 26:40,43,45); Pedro decepou a orelha de Malco e, pouco depois,
negou vergonhosamente o seu Mestre, em casa do Sumo Sacerdote – “Então, Simão
Pedro puxou da espada que trazia e feriu o servo do sumo sacerdote,
cortando-lhe a orelha direita; e o nome do servo era Malco” (João 18:10),
“Então, a criada, encarregada da porta, perguntou a Pedro: Não és tu também um
dos discípulos deste homem? Não sou, respondeu ele” (João 18:17). E O resultado
de tudo isso é o que lemos em João 20:19: “estavam reunidos de portas
trancadas”. E as portas daquela igreja permaneceram trancadas até que o
Espírito Santo veio sobre ela. Uma vez cheios do Espírito Santo, como lemos em
Atos 2:4, começaram a falar com poder e ousadia; o fogo do Espírito ardiam em
seus corações. Nada, absolutamente nada conseguiu apagá-lo. Foram injuriados,
açoitados, presos, ameaçados de morte, alguns morreram, mas sempre falando de
Cristo.
II – É A IGREJA ONDE CRISTO
ESTÁ PRESENTE: Não são imitações de Cristo, nem um Cristo apenas histórico,
morto, separado dos homens, alheio aos nossos aflitivos problemas; mas é o
Cristo que morreu no Calvário em nosso lugar, mas não fica retido pelos laços
da morte. Ressuscitou. Está presente com seus discípulos, com aqueles que
realizam o seu trabalho. No livro de Atos encontramos um Jesus vivo, um Jesus
que fala com seus discípulos, que lhes dá ordens, que lhes lembra as promessas
e que lhes aponta o caminho de poder para as grandes empresas do Reino de Deus.
III – É A IGREJA QUE ORA:
É o que encontramos no livro de Atos – a igreja que persevera unânime em
oração; “e perseveram na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão
e nas orações” (Atos 2:42); ora e treme a terra; ora antes da escolha de
diáconos; ora para que os samaritanos recebam o Espírito; ora para que as
portas do Evangelho sejam abertas para o gentio Cornélio; ora para resolver
problemas; ora para o grande trabalho missionário no mundo inteiro; ora
buscando sempre a face de Deus, buscando o poder para a obra do Senhor.
IV – É A IGREJA QUE GANHA
ALMAS: Num dia somente, a Igreja de Jerusalém ganhou três mil almas –
“Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo de
quase três mil pessoas” (Atos 2:41); pouco depois, lemos em Atos 2:47:
“Louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”; e em Atos 4:4:
“Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de
homens a quase cinco mil”; e ainda, Atos 5:14: “E crescia mais e mais a
multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor”. Estamos
hoje nesse ritmo de Atos dos Apóstolos?
V – É A IGREJA QUE TEM
VISÃO: Ergue os olhos e contempla os campos brancos para a ceifa. Sabe ver
as misérias do mundo, a perdição das almas sem Cristo, a tortura em que vivem
os homens na lama do pecado, as almas preciosas atiradas por Satanás no mar da
amargura de crimes, de furto, de engano, de miséria, vergonha e perdição. Vê e
vai buscá-las; vê e se compadece delas; vê e socorre-as; vê e leva-as a Cristo
para a segurança; para o perdão, para a purificação no sangue do Calvário, para
a salvação plena na graça do Senhor, para a vida abundante em Cristo.
VI – É A IGREJA QUE TEM
OUVIDOS PARA OUVIR: Pode ouvir o clamor das almas em desespero, mergulhadas
no lodaçal do pecado; o clamor daqueles que se acham escravizados pelos vícios;
amarrados pelos grilhões de Satã; que gemem sob dura escravidão; que estão
prestes a partir para a eternidade sem Cristo e sem salvação. É a igreja que
ouve e se apressa em atender; ouve e com urgência envia missionários; ouve e
socorre.
CONCLUSÃO: Eis o
retrato da Igreja de Portas Abertas. Sem dúvida alguma o dínamo do poder foi
acionado. Mas qual teria sido a força a acionar o dínamo? Mais uma organização?
Mais uma regra? Mais um preceito? Mais uma interpretação deste ou daquele fato?
Mais uma polêmica? Não! Nada disso. A força que abriu as Portas da Igreja foi
aquilo que o Senhor tanto prometeu aos seus discípulos em Atos 1:8: “Mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas
tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”.
Precisamos hoje do mesmo batismo de poder que outrora despertou a sonolenta
Igreja de Jerusalém; que venha despertar ainda hoje muitas igrejas que dormem o
sono da indiferença, permanecendo com suas portas trancadas; mortas, mil vezes
mortas. Só o Espírito de Poder e Graça é capaz de vivificá-las e torná-las
úteis para a humanidade que vive estes dias tão agitados e tão terríveis e de
tanta confusão e miséria. A vida de uma igreja, bem como o poder de que
necessita para a obra do Senhor, consiste em abrir as suas portas para Cristo,
portanto, para o mundo conturbado e aflito. Igreja de areia, abri as vossas
portas para a glória de Cristo! Amém!
OBSERVAÇÃO: Sermão da
década 60, quando o Rev David Falcão era Pastor da Igreja Presbiteriana de
Areias - Recife-PE.